Alô?

Aqui estou na dúvida
se escrevo uma prosa ou uns versos. Bem, acho que a situação pede
para que as linhas se preencham lá até o fim, onde as letras caem,
mas não sem antes estarem seguras de serem acolhidas logo abaixo.
Isso me faz pensar se é o começo ou o fim que sustenta um texto. E
se pensarmos no caso dos japoneses?

Vamos em prosa mesmo. O
caso é o seguinte: num domingo já fim de tarde, entre Augusto dos
Anjos, Pessoa e Vinícius passeiam as minhas lembranças. Atrevido
surge no meu rosto um sorriso bobo que nem licença sabe pedir. Mas
me sei apressada. Paro. Que tal um cigarro? Acendo e dou um trago.
Este, mais atrevido ainda que o outro, retruca, a quinta é muito
longe.

Cedo! Subo e ligo…

Depois venho escrever,
antes um banho. Está frio, mesmo assim lavo o cabelo. Meus pés
agora estão gelados e dobrados sobre a cadeira. Os dedos – os das
mãos – tocam e destocam os tipos no teclado, que de birra resistem a
eles, para em seguida: Back Space, Back Space, Back
Space
… Que nem o barulho de um relógio, só que bem apressado,
como se quisesse compensar o tempo gasto antes na construção
daquilo que só foi criado para ter seu tempo compensado. Produzindo
um vai e vem ritmado entre quadradinhos, barra e o retângulo. E a
este eu novamente apelo. Fine. Da capo!: Back
Spaces
, agora com o Ctrl.

Me detenho no limbo da
tela. Busco na memória o que tava escrito, e… CtrlZ! Assim
juntinho, sem toques de relógio a separá-los e aos montes. Ouço um
barulho, levanto, é a ligação sendo retrucada. Chega, não conto
mais. Dois pontos e fecha parênteses.

— Alô?

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