Distância

Quando a ausência de encontro
já não define nossa distância,
A saudade devia ter outro nome.

Posted in meus escritos | Comments Off on Distância

Drão

Sempre que ouço a música Drão, do Gil lembro daquele poema do Haroldo de Campos:

se
nasce
morre nasce
morre nasce morre
renasce remorre renasce
remorre renasce
remorre
re

re
desnasce
desmorre desnasce
desmorre desenasce desemorre

nascemorrenasce
morrenasce
morre
se

Posted in General | Comments Off on Drão

A Xícara

Olho os pedaços: são da xícara,
mesmo depois de quebrada lá está ela, nos cacos.

Visto-me, vou até a cozinha.
Chove, é janeiro, está quente.
Junto tudo e remonto na memória da saudade minha xícara.
Já não a reconheço: é outra.
No entanto é a mesma: xícara.

Esquento a água.
Fervo o boldo para o fígado,
fervo a carne para marte,
junto os cacos conforme a xícara.
Juntos, que mais queremos?

Queremos muito: mundo justo,
justa terra que nos cabe,
massa toda nessa rua,
pratos cheios de loucuras.

Queremos juntos.
E juntos os cacos já na xícara tão grudados.
O que hão de querer os cacos todos juntos,
Senão a xícara já no chão?
Mas chove e é janeiro.

 

(Em diálogo com o PS. Que fala do amor, do desamor e de outras bobagens do subcomandante
insurgente Marcos, de 23 de
dezembro de 1995).

Posted in meus escritos | Comments Off on A Xícara

PS. Que fala do amor, do desamor e de outras bobagens.

amor zapatista ezln

Tonita veio
se exibir com sua nova xícara de chá. Sem anestesia, vai logo soltando que…

 

– O amor é
como uma xícara de chá que cada dia cai no chão e quebra em pedaços; de
madrugada juntamos os pedaços e, com um pouco de umidade e temperança, colamos,
e a xícara passa a existir de novo. Quem está apaixonado passa a vida temendo a
chegada do dia terrível em que a xícara ficará tão quebrada que não será mais
possível uni-la.

 

Vai embora
assim como veio, reiterando sua recusa a um beijo que, agora mais do que antes,
“arranha muito”.

 

– O amor não
é mais que uma balança complicada – Diz Durito –. De um lado colocamos as coisas
boas e, do outro, as ruins. O amor será tão longo quanto o tempo em que uma
balança boa supere em peso a balança ruim. Quem ama passa a vida acumulando
pesos e cuidados na balança boa. Presta tanta atenção nesse peso que se esquece
da balança ruim.Nunca entenderá como um peso, que apenas seria uma pluma de
suspiro, pôde desequilibrar a balança a favor do desamor de forma contundente,
definitiva, irremediável…

 

Fiquei
pensando e fumando. A lua era uma unha nacarada, uma vela inchada de luz no
barco da noite. Assomou o seu gume na cúspide da montanha e depois se lançou
com tal força que seu passo maltratou não poucas estrelas.

 

Tudo bem de
novo. Feliz ano, oxalá que agora sim seja novo.

 

Subcomandante
insurgente Marcos

 

23 de
dezembro de 1995

Posted in mundo | Comments Off on PS. Que fala do amor, do desamor e de outras bobagens.

à beira da fogueira

Posted in ensaio uma casa, produção fotografica | Comments Off on à beira da fogueira

muro

muro

Posted in ensaio uma casa, produção fotografica | Comments Off on muro

parede

Posted in ensaio uma casa, produção fotografica | Comments Off on parede

banheiro

banheiro

Posted in ensaio uma casa, produção fotografica | Comments Off on banheiro

Vazio

vazio

Que é a proximidade, se ela, apesar de se contraírem as maiores extensões em menores intervalos, permanece ausente?

Que é a proximidade, se ela mesma se afasta por essa infatigável supressão das distâncias?

Que é a proximidade, se ao seu ficar ausente também não sobrevém a lonjura?

(Martin Heidegger, A Coisa)

Posted in ensaio uma casa, produção fotografica | Comments Off on Vazio

(sem assunto)

o sem assunto de um email,
traz muito mais que meio,
traz termo.

 

Posted in meus escritos | Comments Off on (sem assunto)